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vizinho das nuvens

ENTRA E BEBE UM CAFÉ DE POESIA

vizinho das nuvens

ENTRA E BEBE UM CAFÉ DE POESIA

Quadras a Santo António

Junho 12, 2007

poesianunorita

Santo António, meu amigo,

rogo-te para ter inspiração.

Sabes o que escrevo e o que digo;

tenho as palavras no coração.

 

Quero escrever-te umas quadras

para mostrar a minha devoção.

Mas saem apenas rimas vagas.

Desculpa-me, não tive intenção.

 

Perdoa-me esta ousadia

fruto da minha tenra idade.

Estou a sentir uma poesia

gerada com generosidade.

 

Rezo louvores a ti meu santo,

Padroeiro da minha cidade,

pelas graças que entretanto

eu recebi da tua bondade.

 

Foi na noite dessa tua festa

que encontrei o meu grande amor,

sendo assim, apenas me resta

agradecer-te por este favor.

   

Eu casei-me na tua capela

Num dia bonito e de calor.

Levava um lenço na lapela.

O coração batia com fervor.

 

Quando ela entrou na igreja,

fiquei fascinado e a sentir

ser impossível não ter inveja

deste amor que me faz luzir.

 

É a ti, meu santo, que o devo.

Exclamo-o feliz e a sorrir.

Desta forma eu não me atrevo

a outros favores te pedir.

 

Estes versos já vão bem compridos.

Até ao fim tenho que os levar.

Por mim, para ti, foram escritos

Com carinho, só para te louvar.

 

E para terminar:

 

Entra na marcha e vem cantar,

No Santo António sê folgazão.

Lisboa vem para a rua dançar,

E comer sardinhas assadas no pão.

 

Viagem no vento

Junho 06, 2007

poesianunorita

 

 

Em silêncio,

esperando pela porta fechada

que abrirá os braços para os receber,

aguardam pela passagem de um vento tubular

que os levará para onde não querem ir.

 

Estes olhos, conformados, realistas,

desistiram de sonhar os sonhos da infância

onde eles se perdiam no imenso mar da imaginação,

em que a alma navegava de ilha em ilha,

procurando os segredos particulares

que cada uma delas guardava

nos tesouros enterrados pelos piratas do sentir.

 

Em cada tesouro havia sempre um mundo novo

pleno de cores e de cheiros desconhecidos,

 habitado por gente que era bonita e interessante

 e de onde não apetecia sair nunca.

 

Por lá encontraram estes olhos outros olhos,

que procuravam olhos amigos para partilhar

estes mundos novos e alegres.

 

E naquele momento, o mundo foi feliz.

 

Mas estes olhos não estavam destinados

a ver os outros olhos a envelhecer...

 

Separaram-se encharcados nas lágrimas dos olhos

que se julgavam juntos para sempre e que sem querer

aumentaram o tamanho do mar que um dia os uniu.

 

Estes olhos juraram nunca mais esquecer os olhos que partiram...

 

Agora, estes olhos desfocados aguardam

pelo vento metálico tubular que os levará

como folhas varridas num jardim,

sem vontade de encararem outros olhos

igualmente deslavados que estão no rosto cansado

que habita o vulto imóvel à sua frente que lhe sorri.

 

Com esforço reconhecem naqueles olhos que o miram,

os olhos perdidos no antigo mar das emoções.

 

Reconhecem os contornos ovais e a cor de avelãs

torradas pelo sol do verão, reconhecem o brilho da determinação

que sempre fascinou estes olhos que olham os outros que lhe sorriem.

 

Mas estão diferentes, tais como estes olhos, os outros perderam

a inocência e a doçura que os caracterizavam tão vincadamente.

O tempo, a vida e a distância encarregaram-se de as apagar destes

olhos que se olham espantados e reencontrados.

 

Lágrimas correm destes olhos que durante muito tempo

correram como loucos procurando os olhos que agora

os foram encontrar sem que eles estivem a procurá-los.

 

Agora é tarde para voltarem a procurarem tesouros escondidos

em ilhas imaginárias, no antigo mar das brincadeiras de crianças.

 

O mar já não separa os olhos que sempre se quiseram encontrar...

 

Esse mar já não existe...

Subúrbios

Junho 02, 2007

poesianunorita

Ao levantar-se, ainda o sol descansa e não raiou.

Acorda já cansada pela breve noite que passou.

 

Abandona relutante o lençol ainda morno.

Esfrega as mãos na cara para afastar o sono.

 

O tempo foge-lhe como água por entre os dedos.

Utiliza para o prolongar alguns truques e segredos.

 

Sem tempo para si, prepara os filhos para a escola.

Acorda-os, dá-lhes de comer, arruma-lhes a sacola.

 

O mais velho já tem idade para poder ir sozinho.

A escola é perto, a viagem é curta e é bom o caminho.

 

O mais novo vai com a mãe para o infantário.

Apanham uma boleia com o pai que é bancário.

 

Dá um beijo ao miúdo, cumprimenta a educadora

(ela em pequena tinha o sonho de ser professora).

 

Corre para o comboio que não espera na estação.

Junta-se aos rostos do costume, à imensa multidão.

 

Viaja de pé, apertada, quase sem poder respirar,

e por breves momentos ela sonha com o mar.

 

Chega ao destino com tempo para um café

engolido rapidamente ao balcão e em pé.

 

Entra ao serviço, já tem clientes à espera,

Entrega-se ao trabalho com ganas de fera.

 

Arranja unhas, lava cabeças, faz depilações,

é assim que lentamente amealha os tostões.

 

Almoça no Salão, frugalmente e num instante,

aprecia o que faz, tem espírito de comerciante.

 

Atende mais clientes, fica para além da sua hora.

Precisa do dinheiro que a hipoteca devora.

 

Fecha a loja a correr, está na hora de regressar.

Dói–lhe a cabeça, está cansada demais para pensar.

 

Encosta-se ao vidro, fecha os olhos dormentes.

Ninguém repara nela, todos estão ausentes.

 

Quando chega a casa já as crianças jantaram.

Estão a fazer os trabalhos que da escola mandaram.

 

Cumprimenta o marido e vai para a cozinha.

Come o jantar requentado, na mesa, sozinha.

 

Observa as imagens longínquas na televisão.

Resmunga com os catraios por causa da confusão.

 

Pensa na ultima vez que foi ao cinema.

Não se lembra do filme nem sequer do tema.

 

Pergunta ao marido – “Porque não vamos passear

neste fim-de-semana? Apetece-me ver o mar.”

 

“Este fim-de-semana não vai dar, não pode ser.

São os anos da minha mãe, não nos podemos esquecer.”

 

Responde-lhe o marido a guardar o jornal.

“Compras-lhe uma prenda que não seja banal?”

 

A arrumar o prato, irrita-se com a resposta.

“Achas que eu tenho tempo para essa proposta!?”

 

Controla-se para não aumentar a discussão.

Está cansada demais para bater nesta questão.

 

Começa a adiantar o jantar de amanhã.

O mais pequeno vem pedir um beijo à mamã.

 

Tem um monte de roupa para engomar,

e outro monte ainda maior para lavar.

 

O marido vai pôr os miúdos a dormir

Fazem uma algazarra e começam a rir.

 

Sem paciência reclama do barulho.

As gargalhadas ferem-lhe o orgulho.

 

Termina o trabalho já a noite vai alta.

O marido ressona, nem sentiu a sua falta.

 

Há vários meses que não fazem amor

e quando o faziam era quase por favor.

 

Já se esqueceu como é ser-se sensual.

Mira-se ao espelho enquanto tira o avental.

 

Adormece estafada mas tem pouco tempo,

para ela dormir é um mero passatempo.

  

Amanhã repetir-se-á esta rotina enfadonha,

e ela vai sobrevivendo nesta vida medonha.

 

As lágrimas que agora costuma chorar

rolam tristes para um profundo e triste mar.

 

Afoga-se num peso que não é da sua idade.

Do seu tempo de menina ela sente saudade.

 

A vida devora-a com o seu desdém...

É uma trabalhadora, uma mulher e uma mãe.

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