Como é que se fecha uma emoção?
Como é que se cicatriza uma ferida?
Como se pode pedir ao coração
Que nos demonstre uma saída:
Quando não sabemos onde é a entrada,
Quando o que sabemos é quase nada.
Quando o vulcão acesso do sentir
Deita cá para fora o que não devia de vir.
Quando eu pensava que o que estava fechado,
Preso, distante, por fim acabado,
Me revolve quando não devia
Numa embrulhada pouco sadia,
Mas que vem de dentro, do fundo,
Do inconsciente, longe e mudo,
Que aparece quando não se espera
E esconde o sol da primavera,
Que procura me baralhar
Pôr na mesa, partir e voltar a dar.
Quando é apenas uma emoção antiga
Que nem sequer é minha amiga...
Como é que se fecha uma emoção?...
Pois é, parece que não se fecha...
Pode-se tentar recalcar,
Mas ela não deixa.
E volta para nos recordar
Que está bem presente e não no passado,
Que julgava ausente, mas que não está parado,
É um felino caçador que espera por mim
Oculto, observador, por detrás do capim
Das outras emoções que vou coleccionando
Nesta caixa de sangue e serões,
Que carrego por vezes chorando,
Por vezes alegre e a rir,
Por vezes indiferente,
Por vezes só, a ressentir,
Por vezes ausente
Numa viagem interior,
Muitas vezes feliz e amado
Numa abundância de amor.
Mesmo sabendo que tenho que sofrer, digam-me:
Como é que se fecha uma emoção?...